A Cidade

Data

Para fundar um país, uma civilização, decidiram fazer uma cidade: Salvador. Em volta dela, ao longo da mais formosa baía já revelada, fizeram-se engenhos, complexas estruturas agroindustriais autossuficientes e estanques. Estava pronta a obra. De forma imprevista, porém, foram surgindo povoados, ao sabor das vontades de alguns indivíduos, como pontos de encontro, lugar de comércio, de exercício de religiosidade e das manifestações culturais. Cachoeira, no extremo oeste dessa civilização inventada, nasce como um pouco de todas essas coisas e floresce como ponto de contato, elo entre o Brasil da cidade e seus engenhos, o Brasil imaginado d’além mar e o Brasil profundo, dos povos chamados tapuias, estrangeiros do ponto de vista da cidade inicial.

Os dois brasis vão se fundindo em Cachoeira. Quando a fusão está madura, decide o povoado, já então importante vila, que uma terceira civilização, síntese das outras duas, está pronta para se tornar um país independente, novo.

É 25 de junho de 1822, data em que Cachoeira decreta que portugueses, africanos e tapuias se tornaram uma coisa só, tornaram-se brasileiros. Nenhuma outra data marca tão bem o nascimento desse país intercultural.

O novo país, gigante por natureza, cresce, fermenta, torna-se maior ainda por obra e graça de um povo imenso. Cachoeira mantém-se lá, com a mesma aparência que tinha no dia fundador, observando o país que ali nascera se desenvolver.

Mantém-se assim como um museu, retrato vivo da história singular de uma grande nação, de uma nova civilização. A paisagem natural é belíssima. A arquitetura é histórica, eclética e majestosa. A paisagem humana é a soma de biomas culturais de muitas eras, do colonial ao contemporâneo, passando pelas várias áfricas, destacadas, visíveis em suas nuances.

O palco está armado, os anfitriões são de fina estirpe, o assunto diz-lhe respeito. Cachoeira está pronta para receber os que querem conhecer a gênese da civilização brasileira e festejar o prazer da literatura junto a seus mestres.

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